quinta-feira, 22 de junho de 2017

(Viagem à roda do meu quarto (1794), de Xavier de Maistre): (“UM LIVRO BASILAR PARA O SURGIMENTO E FORMAÇÃO DO ROMANCE MODERNO”)

(Viagem à roda do meu quarto (1794), de Xavier de Maistre):



(“UM LIVRO BASILAR PARA O SURGIMENTO E FORMAÇÃO DO ROMANCE MODERNO”):



(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO):

“O clássico Viagem à roda do meu quarto (1794), de Xavier de Maistre, uma obra prima do dualismo dinâmico parabático e irônico do prosaico e sublime; exterior e interior; íntimo e objetivo; ou seja, opostos complementares, segundo os Irmãos Schlegel.
Viagem ao redor do meu quarto é um livro único e que serviu de tradição literária e influência estético-estilística para Machado de Assis, quanto ao fluxo de consciência, no Realismo Artístico. E também o antecipador do romance moderno Marcel Proust e seus quartos íntimos e reflexivos, meditativos, contemplativos e que chegam no modernismo brasileiro de Manuel Bandeira também, basta ver o poema “Maçã”.
Viagem à roda do meu quarto tem como pretexto o confinamento íntimo, interior e subjetivo do narrador, em Turim, por conta de um duelo, durante 42 dias (o número de capítulos). Essa reclusão acarretada por um episódio passional reflete uma situação existencial dialética não sintética entre subjetividade e objetividade; realidade e devaneios. Restaram-lhe os prazeres de um egotismo caprichoso e errático, que muito influenciará o defunto narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Aliás Xavier de Maistre teve como tradição literária o maravilhoso Tristram Shandy, de Laurence Sterne.
Machado de Assis o teria como influência em seus escritos e obra literária como um todo, em indisfarçáveis aspectos: a conversa constante com o leitor, os capítulos curtíssimos, a metalinguagem, as digressões, o uso satírico de teorias filosóficas, o Humanistimo, por exemplo de Quincas Borba, a pilhéria dialogando com a melancolia, ou seja, nesse clima de volubilidade e misantropia, e, o dualismo dinâmico de realidade, delírio/devaneio/sonho, e mais a metalinguagem para complementar o surgimento do romance moderno de fins do século XIX, início do século XX, com Joyce e Mann.

Por isso, apesar do charme do texto, há uma reserva que persiste na leitura de Viagem à roda do meu quarto (e da sua continuação, publicada em 1824, Expedição noturna ao redor do meu quarto. O que não se pode negar é que de Maistre conseguiu o feito de alargar as fronteiras da literatura, trazendo o mundo da intimidade pessoal e a falta de intriga folhetinesca para o centro da narrativa, na exploração do seu quarto por 42 dias e no decorrer de uma noite, como complemento dos devaneios, sonhos/realidade, fatos.”. 


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