segunda-feira, 13 de junho de 2016

(“MEMÓRIAS DE LÁZARO”, ADONIAS FILHO): (“QUEDA, RESSURREIÇÃO E MORTE-SEM-REDENÇÃO”)

(“MEMÓRIAS DE LÁZARO”, ADONIAS FILHO):

(“QUEDA, RESSURREIÇÃO E MORTE-SEM-REDENÇÃO”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“A ambiência do romance “Memórias de Lázaro”, de Adonias Filho, é angustiante, claustrofóbica, fétida, mórbida e putrefata. Adonias está longe neste romance de sujeitar à simples e pura Literatura da Geração de 30, meramente regionalista, apesar da trama se passar no vale do cacau, na Bahia, aqui o que importa é miséria e a dor humana.

O psicológico se sobressai, em fluxos de consciência das personagens, com todas elas possuindo voz própria -, polifonia, nos termos de Mikail Bakhtin, pois de maneira polifônica, ou seja, através das vozes e pontos de vistas de todas as mais importantes personagens, o leitor adentra mais profundamente no drama, na tragicidade e na miséria humana das personagens de “Memórias de Lázaro”.

 A fragilidade das personagens neste romance, beira à bestialidade e à fragilidade humana, uma miséria existencial, que beira a animalização do ser humano. As memórias vão sendo narradas, com parcimônia e com total controle do autor, em esmiuçar amiúde cada detalhe da rememoração de cada personagem, sem pena, quase um sadismo narrativo. A rememoração é importantíssima na obra, já se ver pelo título da mesma. E os detalhes delas fecham o romance de maneira categórica, trágica e demasiadamente desesperadora, mas humana.

Por fim, vale ressaltar que o protagonista, cai, leva uma queda, de um erro que comete, é punido por si mesmo e o peso na sua consciência torturando-o; se reergue e ressuscitado, luta pelo que acha que acredita que é certo fazer, porém, por pouco tempo, pois, falha, outra queda e morre, não adianta esconder, e, a morte é sem redenção e muito menos sem ‘outra’ ressurreição.” 


(“O CICLO DO PAVOR”, ITA, 1966, MARIO BAVA): (“UM VILAREJO DE HORROR E MEDO”)

(“O CICLO DO PAVOR”, ITA, 1966, MARIO BAVA):

(“UM VILAREJO DE HORROR E MEDO”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)





“Se pensarmos bem, o cinema de terror psicológico não é só forte nos EUA, mas na Itália, a quantidade e a qualidade é tamanha, que espanta! Mario Bava é um diretor que é mestre do horror italiano, tanto de cunho psicológico quanto de terror físico e muito violento.

O ciclo do pavor possui uma atmosfera e uma ambiência angustiante para as personagens e para o espectador também. O clima é claustrofóbico no vilarejo em que se desenrola o enredo e tudo é suspeito e todos também. Só o desfecho é que fecha a questão sobre a problemática proposta pela obra fílmica.


Excelente filme e com mortes violentas e bastante “originais” e horripilantes.”



sábado, 11 de junho de 2016

(“A VINGANÇA DOS 47 RONINS”, 1941-42, KENJI MIZOGUCHI): (“A HONRA E O VALOR DE SER UM SAMURAI”)

(“A VINGANÇA DOS 47 RONINS”, 1941-42, KENJI MIZOGUCHI):

(“A HONRA E O VALOR DE SER UM SAMURAI”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)





“Existem três versões clássicas nipônicas no cinema, para o fato histórico dos 47 samurais que buscam vingar seu falecido suserano, além de ser um acontecimento histórico do Japão feudal e, que ganhou status de lenda nacional.

1701, Lorde Asano é obrigado a cometer seppuku, após desentendimento fútil, pois agrediu o esnobe Mestre Kira, que destratou Asano. Kira é um mestre de cerimônias do Xogum. Os samurais de Lorde Asano decidem vingar a morte-suicídio deste.

Mizoguchi é um clássico diretor japonês e um dos maiores diretores de todos os tempos. Filmou os 47 ronins em duas partes, 1941 e 1942, totalizando quatro horas de uma obra-prima. Mizoguchi realizou uma película fiel e exemplar do clássico simbolismo do Bushido, o código de honra samurai.

47 ronins lutam pela sua honra e pela honra ferida do mestre deles. O filme perpassa pelos conflitos emocionais de cada ronin e por relações entre si e os rivais. Mizoguchi além de se basear no fato histórico, na lenda popular, também se baseou em uma peça teatral. O filme respira teatralidade, de maneira convincente e alegórica. O enredo transcorre sem pressa e esmiúça a miúde, de forma exemplar e lírica, a jornada dos 47 ronins.

As lutas, os combates, a ação propriamente dita, é abordada em poucas cenas, o diretor prefere explorar mais a conduta moral, valores, inter-relações pessoais, emocionais e a psicologia dos ronins.


Enfim, o filme busca entender o que é “SER UM SAMURAI.””.

(“ATO DE VIOLÊNCIA”, 1948, Fred Zinnemann): (“UM BELO E VIOLENTO MELODRAMA-NOIR”)

(“ATO DE VIOLÊNCIA”, 1948, Fred Zinnemann):

(“UM BELO E VIOLENTO MELODRAMA-NOIR”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)





“Fred Zinnemann realiza um filme noir de alto grau de tensão psicológica e, inclusive, boas doses de violência (moderadas, contudo), como o próprio título no Brasil sugere. O noir aqui mistura-se a outro gênero cinematográfico: o melodrama.

Um homem que vive triste, infeliz e amargurado pelas lembranças de um passado trágico, em que foi traído e frustrada sua tentativa de fuga de um campo nazista. Anos depois, o homem amargurado, ainda pensa vingança e tenta levá-la a cabo contra o seu algoz do passado. Que foi o seu comandante na Segunda Guerra Mundial, no campo de concentração nazista.

As atuações são excelentes destaques para os antagonistas Van Heflin e Robert Ryan.

A direção de Zinnemann é precisa e mantém a tensão típica de um noir, mas a modera com doses de melodrama, só que este não é exagerado. O filme merece ser visto.”

segunda-feira, 6 de junho de 2016

(“A GAIVOTA”, DE ANTON TCHEKHOV): (“O PROCESSO DE ESCRITA E SEU SIMBOLISMO”)

(“A GAIVOTA”, DE ANTON TCHEKHOV):

(“O PROCESSO DE ESCRITA E SEU SIMBOLISMO”):

(CRÍTICA DE RAFAEL VESPASIANO)




“Peça com tons decadentes e simbolistas na tessitura. Uma comédia-trágica, nas minhas palavras. A peça A gaivota, de Anton Tchekhov, é uma alegoria, cujo o símbolo, a gaivota, ora viva para um escritor, este obtém sucesso com seus livros, não importando para a trama, o talento dele; ora uma gaivota morta, para um escritor sem sucesso com público leitor e a crítica, mas talvez com talento, ou pelo menos, mais talentoso que o primeiro. Um dos artistas é mais egoísta, o outro é mais ‘humano’.


Enfim, a vida. A peça é um refletir de Tchekhov sobre a vida do Escritor e suas agruras, agonias existenciais e o processo de escrita.”

sexta-feira, 3 de junho de 2016

(“RESSURREIÇÃO”, 1872, MACHADO DE ASSIS): (“MACHADO SURGINDO COMO UM GRANDE ROMANCISTA”)

(“RESSURREIÇÃO”, 1872, MACHADO DE ASSIS):

(“MACHADO SURGINDO COMO UM GRANDE ROMANCISTA”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)





“Bom início como romancista de Machado de Assis. Seus romances evoluem da terceira pessoa onisciente intrusa para primeira pessoa parcial. Aqui, em Ressurreição já há ironia, sarcasmo e ironias ao Romantismo Brasileiro, tipicamente burguês e frívolo. Vemos já traços do romantismo inglês e francês, contudo, respectivamente, de Sterne e de Maistre e, do romantismo alemão. E, lógico do realismo artístico de Flaubert e, posteriormente, Dostoiévski e Tólstoi seriam tradições que podem se correlacionar com a obra de Machado de Assis. Ressurreição é o primeiro passo para o grande romancista que amadureceu em Machado. Neste romance, Ressurreição, o narrador e, às vezes, o autor implícito, tem o objetivo declarado, que o narrador “estude” um caráter, o de Félix, em contraponto com o caráter de Lívia, e, a trama é mínima. Alguns fluxos de consciência; algumas digressões já se observam. As conversas irônicas com os leitores já se fazem presentes. As advertências aos seus livros, espécie de prólogos machadianos, já aparece também aqui e já prefigurava muito do que esperar do romance supracitado.”

("O CHEIRO DO RALO", LOURENÇO MUTARELLI): ("O VAZIO EXISTENCIAL DE UM HOMEM-NULO")

                                                                   ("O CHEIRO DO RALO", LOURENÇO MUTARELLI):

                                                                    ("O VAZIO EXISTENCIAL DE UM HOMEM-NULO"):

                                                              (CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)


                                                                           



    "Fantástico romance de Mutarelli, O "Cheiro do ralo" ressalta a loucura de um homem, obcecado por si mesmo e por uma "bunda", numa objetificação paranoica, incluindo, um olho de vidro. Essa paranoia e várias obsessões vazias de sentido e de finalidade, só ressaltam o vazio existencial, de um homem, que mais que em crise existencial, é nulo como ente, um zero como ser humano, que se rebaixa ao animalesco, numa monomania, em várias paranoias, tudo num ser vazio e perdido em sua triste existência, meramente física, pois, existencialmente, o "herói" é um oco humano. Um nada. Sem sentimentos de coexistência com outrem e sem perspectiva de manter relações interpessoais, familiares e/ou amorosas. O sexo para ele é puramente animalesco, de constranger as mulheres envolvidas, numa verdadeira agressão à mulher, uma violação da dignidade das mulheres que aparecem em seu caminho."