sexta-feira, 12 de junho de 2015

"A LANÇA ENSANGUENTADA" (TOMU UCHIDA/JAPÃO/1955): (“UMA MISCELÂNEA DE SUBGÊNEROS: FILME DE SAMURAIS, COMÉDIA E ROAD-MOVIE”)

A LANÇA ENSANGUENTADA (TOMU UCHIDA/JAPÃO/1955):


(“UMA MISCELÂNEA DE SUBGÊNEROS: FILME DE SAMURAIS, COMÉDIA E ROAD-MOVIE”):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO).






“Neste clássico chambara dirigido por Tomu Uchida tem-se um belíssimo exemplar de filme de samurais, que foge do lugar-comum, pois, primeiro, não mostra muitas batalhas e duelos e, segundo, inova o gênero chambara a misturar outros subgêneros cinematográficos, como comédia e road-movie. No caso do enredo, um samurai jovem e que gosta de beber, tornando-se um verdadeiro beberrão, desloca-se com seus dois vassalos por um caminho rumo à cidade de Edo (Tóquio, hoje), nessa travessia uma série de figuras e situações aparecem e ocorrem, são personagens de todos os tipos que geram vários acontecimentos inusitados (melodramáticos). Uchida realiza em 55 uma segunda versão desse título, a primeira é de 1927.

Uchida é um dos grandes cineastas nipônicos, contudo, pouco conhecido no Ocidente, mas uma das suas mais relevantes características é a versatilidade. Por isso mesmo, em “A lança ensanguentada”, mistura vários gêneros fílmicos, comédia e road-movie, são os mais evidentes, porém, sempre em consonância com as tradições culturais do Japão e o contexto da época.

Na trama, tem-se uma personagem importante que é o Lanceiro, figura dos clãs de samurais muito importante para as batalhas que se travam, porém, os lanceiros não tinham o mesmo status social que os espadachins, de qualquer forma os lanceiros eram fieis aos seus suseranos, dentro clã de samurais a que pertencia. O que diferencia também essa película das demais obras chambaras da época, é que o samurai trata de igual para igual o seu Lanceiro, já que os outros samurais achavam vergonhoso esse tipo de situação, eles faziam questão de ressaltar sua distinção hierárquica e superior no estrato social do Japão feudal.

Mas, no caso, do Samurai e do Lanceiro, de A lança ensanguentada, a fidelidade deste não se deve ao status hierárquico, mas por um laço mais forte (e humano): a amizade. Este tipo de relação humana, social e de valor moral é salientada pelo diretor Uchida como uma forma de valorizar tão bela relação interpessoal, mais um filme que mostra toda a sabedoria oriental. Grande filme!”

 LINK DE REFERÊNCIA PARA ESTA APRECIAÇÃO:


POR – GABRIEL VINCE:



quinta-feira, 11 de junho de 2015

COMEÇO DE PRIMAVERA (YASUJIRO OZU, JAPÃO, 1956): (“O ETERNO RE-COMEÇAR DO SER HUMANO”)

COMEÇO DE PRIMAVERA (YASUJIRO OZU, JAPÃO, 1956):


(“O ETERNO RE-COMEÇAR DO SER HUMANO”):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO).





Os filmes do cineasta nipônico Ozu tratam, essencialmente, sobre o cotidiano das relações familiares, interpessoais e amorosas, sobre a rotina da sociedade japonesa, ou seja, a mola propulsora de todos os filmes de Ozu é narrar e refletir sobre a existência humana em sua essência, seja individual e/ou em socialização, enfim, suas obras são sobre o Tudo e/ou o Nada: a VIDA.
Uma proposta fílmica ousada para qualquer artista (cineasta), mas que Ozu consegue realizar de maneira plena artisticamente, com simplicidade e humildade. Sua câmera sempre ao pé do chão, propõe, justamente, isso a equiparação do espectador aos personagens da trama que está sendo projetada, ou seja, somos todos humanos.
Ozu narra suas histórias sem pressa, calmamente e com sabedoria típica da filosofia oriental; o cotidiano e o enredo da trama passam como se passa o tempo cronológico e psicológico das nossas vidas reais, ou seja, sem que a gente se aperceba do seu passar, inexoravelmente e sempre contínuo devir. E com tantas reflexões que são feitas nos filmes de Ozu, e, portanto, sobre a existência e, assim sobre nossas rotineiras, mas irrepetíveis vidas.
No filme “Começo de primavera”, uma das reflexões é sobre o Japão do Pós-Segunda Guerra Mundial, abrindo-se para uma nova fase em sua existência como nação e o começo de sua industrialização e do trabalho assalariado, principalmente, para os homens, mas também para algumas mulheres. Outra parcela das mulheres continua como donas de casa ou em outras funções subservientes a um Japão ainda preso às tradições patriarcais e machistas.
Um casal vive aparentemente em harmonia, até o marido se envolver com uma colega de trabalho, que gera fuxicos entre seus colegas e amigos, o que já leva à reflexão sobre a amizade verdadeira; as fofocas chegam à esposa. No início do caso amoroso, a amante se diz satisfeita em ser a outra, mas, de repente, passa a odiar a esposa do amado. Exige algo sério, que o jovem assalariado não considera. O conflito está instaurado, mas é questionado e refletido sem estardalhaços, mas com parcimônia pelo diretor Ozu e com um enredo transcorrendo normalmente, sem pressa, como nossos os cotidianos e como o dia-a-dia das personagens da obra, ou seja, de todos nós.
Então, a obra fílmica descortina uma reflexão sobre o começo, o fim e o recomeço das relações amorosas, sobre o perdão, o mais nobre dos sentimentos humanos, a calma e paciência, sabedorias nipônicas, reflexões sobre o começo e o fim da vida, em termos de finitude terrena mesmo, mas sempre levando em conta questões existências, espirituais e metafísicas; outra proposta é pensar o filme sobre o seu caráter social, o começo primaveril da Tóquio, como uma megalópole, sua industrialização crescente, o trabalho assalariado como uma faca de dois gumes: ascensão social, mas nem sempre plenitude e harmonia existencial, amorosa e nem plena realização nas relações interpessoais (e até espirituais); a reconstrução do Japão também de certa forma abordada, depois da Guerra é sugerida e refletida em algumas cenas e diálogos.
Enfim, o “começo” a que o título se refere é o início da vida do ser humano em sua plenitude e paz interior e com os outros ao seu redor, ou até o re-começo de sua existência, basta também pensar na “primavera”: o re-início do ciclo da natureza e, portanto, também o começo e recomeço do ciclo existencial humano. O começo e o fim se complementam, mas a primavera sempre se fará existir e persistir, seja como começo, seja como recomeço dos ciclos da natureza ou da existência humana.

Ah, e as imagens frequentes dos trens indo-e-vindo em várias cenas do filme não são gratuitas, são espelhos reflexivos do início e reinício de todas as vidas, no cotidiano das existências humanas, no alvorecer, no anoitecer e no alvorecer de novo... Portanto, o que seria meramente rotineiro é a essência do ser humano. A deviniência do Cosmos é também nossa, pois estamos inseridos em todo esse imenso Universo de “re-começo(s)”.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

QUATRO FILMES DE KUROSAWA: ("OBRAS ESSENCIAIS PARA ENTENDER O UNIVERSO FÍLMICO DE AKIRA KUROSAWA")

QUATRO FILMES DE KUROSAWA:


("OBRAS ESSENCIAIS PARA ENTENDER O UNIVERSO FÍLMICO DE AKIRA KUROSAWA"):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO).









Os sete samurais:


 "Aqui são levantadas algumas questões do caráter humano (duas qualidades), que o cineasta leva o espectador à reflexão, sobre a solidariedade e a união, as quais estão faltando aos homens nos dias de hoje, em especial aos governantes, na hora de tomar decisões importantes para a sociedade. O companheriismo e união entre os samurais e as pessoas do vilarejo, que aqueles vão defender, vai crescendo com o passar do tempo. Fica, então, uma proposta reflexiva, portanto, sobre a essência humana, que deveria sempre prevalecer (mais uma vez, o cineasta Kurosawa reflete sobre união e companheirismo, vide "Dersu Uzala"), ou seja, para Kurosawa a amizade entre as pessoas é uma questão sine qua non do ser humano e da sociedade, sem ela sempre prevalecerão os conflitos e a desunião. Mas o filme também serve como excelente película de chambara e de duelos e batalhas, num roteiro de qualidade ímpar."







Trono manchado de sangue:

"Uma excelente adaptação para o cinema da tragédia "Macbeth" de Shakespeare. A base da trama da peça é mantida por Kurosawa, mas ele transfere a ação para o Japão feudal, incrível originalidade é demonstrada pelo diretor nessa recontexualização do enredo trágico do bardo inglês. Originalidade também demonstrada em várias cenas do filme, Kurosawa é um dos maiores diretores do cinema japonês, ou melhor, do cinema mundial em todos os tempos."






Yojimbo:

    "Uma história de samurai, só que transformada em comédia, pois Yojimbo (Toshiro Mifune, presente em vários filmes dirigidos por Akira Kurosawa) aproveita-se da situação de conflito numa cidade entre facções rivais, para ganhar dinheiro, mas sempre ele demonstra bom humor e sempre se sai com "tiradas" irônicas e sarcásticas. O humor fino e irônico é a característica primordial do filme. Poderíamos falar que o filme se equilibra numa linha tênue entre tragédia iminente e a comédia perpassando quase todas as ações do roteiro."








Rashomon:

     "Neste filme, Akira Kurosawa explora mais uma vez as histórias sobre samurais, mostrando várias versões para um mesmo fato (crime), só se revelando a verdade ao final do filme (ou seja, o suspense é mantido até o fim e o espectador fica preso pelo filme até o desfecho do mesmo); é explorado de forma magnífica (flashbacks) as várias hipóteses, versões para o mesmo fato. Uma ora o espectador acha que resolveu o mistério, mas vem a outra versão dos fatos e tudo muda. Obra genial."



13 Assassinos (Eiichi Kudo, Japão, 1963): (“Crueldade e código de honra samurai e ronin”)

13 Assassinos (Eiichi Kudo, Japão, 1963)

(“Crueldade e código de honra samurai e ronin”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO).



"O enredo, aparentemente, simples, mostra um cruel Daimiô (espécie de senhor feudal do Japão do Xogunato), que comete atrocidades, como assassinato e estupro. Diante dessas crueldades treze (13) samurais-, ressalte-se que estes são ronins, ou seja, ex-samurais, sem senhor-, se unem e resolvem detê-lo em nome da honra. Nem todos os treze samurais/ronins entram na rebelião pelo senso de justiça, por exemplo: alguns por ambição, outros pelo prazer da batalha, etc.
Os 13 ronins começam a fazer emboscadas para o Daimiô cruel que está se deslocando de uma casa para outra, essa parte do filme é pura estratégia, típica de jogadores de futebol americano, ou beisebol, ou melhor, comparando, típicas artimanhas de enxadristas, nesse jogo, embate de samurais e ronins, para vencer o rival é necessário a antecipação de cada movimento.
O clímax final é uma interessante e detalhada batalha (que não fica a dever em nada aos blockbusters estadunidenenses do século XXI, é até mais estimulante, inteligente, mais bem orquestrada e coreografada), entre os vassalos do Daimiô e os 13 rebeldes. Toda a ação é ininterrupta e ocorre numa vila repleta de armadilhas, tocaias, surpresas, formando um verdadeiro labirinto de becos traiçoeiros. A desvantagem em números dos rebeldes é superada pela a inteligência estratégica deles sobre os guardas leais ao seu suserano cruel.
“13 assassinos” nos leva a uma reflexão sobre o Japão feudal, qual seja a diferença do samurai para o ronin. Todo o senso de dever do Samurai paira em torno do seu daimiô, seu senhor e suserano, independe se as condutas desse senhor são justas e horadas ou não para o samurai servo daquele. O ronin, por outro lado, é livre, sem suserano ou senhor. Ele tem suas próprias diretrizes e código de conduta, honra e justiça, seus próprios interesses, sendo eles nobres ou não. Alguns estão dispostos a morrer por eles, se for necessário, como um samurai.

Esse filme de Kudo foi refilmado, recentemente, pelo festejado diretor Takashi Miike."

terça-feira, 2 de junho de 2015

AKIRA KUROSAWA: DODESKADEN E DERSU UZALA: ("DUAS OBRAS-PRIMAS POÉTICAS: UMA SOBRE A MISÉRIA, A OUTRA É UMA REFLEXÃO SOBRE O COMPANHEIRISMO E O RESPEITO À NATUREZA"):

AKIRA KUROSAWA: DODESKADEN E DERSU UZALA:

("DUAS OBRAS-PRIMAS POÉTICAS: UMA SOBRE A MISÉRIA, A OUTRA É UMA REFLEXÃO SOBRE O COMPANHEIRISMO E O RESPEITO À NATUREZA"):


"AMBAS PELÍCULAS UNIVERSAIS":


CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO







 ""Dodeskaden - O Caminho da vida": é belíssimo, mas duro e triste. Mas é uma reflexão sobre a vida, que é marcada de alegrias e tristezas, portanto passível de ser narrada em um filme, melancólico, mas acima de tudo reflexivo e poético. Mostra uma das mazelas da sociedade contemporânea: a pobreza. Numa favela de Tóquio, a miséria é enorme, e seus moradores procuram enfrentá-la da melhor maneira possível, porém sem sucesso; ilusões, esperanças, etc., tudo se mistura nas almas dessas pessoas. Retrato comovente e contundente da sociedade atual, e olha que esse filme é do século XX, mas permanece contemporâneo ao século XXI, com certeza um clássico, portanto, universal."

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“Dersu Uzala”: “Magnífico filme sobre a amizade entre os homens e o respeito pela natureza. Dersu é um caçador que sabe como ninguém os domínios da floresta em que ele vive, quando chega alguns militares para mapear a região, ele acaba se tornando o guia deles (e que guia!) e nasce uma amizade muito forte entre Dersu e o oficial chefe da expedição. Um filme sobre companheirismo, solidariedade e respeito à natureza.”.



MULHERES DA NOITE-KEIJI MIZOGUCHI: ("O CINEASTA-POETA DAS MULHERES"):

MULHERES DA NOITE-KEIJI MIZOGUCHI:

("O CINEASTA-POETA DAS MULHERES"):

CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO.





"Mulheres da noite é um filme de 1948, que trata da vida dura das prostitutas do Japão, pós Segunda Guerra Mundial, um país em meio aos destroços, ao caos, ruínas; e, o não retorno dos esposos faz as mulheres terem que de alguma maneira sobreviver e ganhar seu próprio sustento, até mesmo vendendo seus corpos. O filme também trata de um assunto espinhoso à época da feitura da obra (um verdadeiro interdito), já que Mizoguchi aborda as DSTs da época, uma proposta polemica para a época. O cineasta é o cineasta das mulheres japonesas, sempre as retratando com poesia, melancolia, carinho, respeito, amor e consideração. Seja para mostrar suas alegrias, seja para mostrar suas tristezas, mas o cineasta sempre buscar retratar as mulheres com poesia e na sua essência verdadeira, Mizoguchi percebe que as mulheres do Japão do passado até os anos em que aquele fez seus filmes, eram verdadeiras batalhadoras e sofredoras, mas que transpiravam beleza e poesia, apesar de tudo."