terça-feira, 29 de dezembro de 2015

“RELATOS SELVAGENS; TANGERINAS; IDA; TIMBUKTU E LEVIATÔ: (“OSCAR DE MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA (2014-2015): FILMES EXCELENTES, MAS QUEM LEVOU SEGUNDO A ACADEMIA, É O MEU PREDILETO?”)

“RELATOS SELVAGENS; TANGERINAS; IDA; TIMBUKTU E LEVIATÔ


(“OSCAR DE MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA (2014-2015): FILMES EXCELENTES, MAS QUEM LEVOU SEGUNDO A ACADEMIA, É O MEU PREDILETO?”):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)


     “Prometi lá no final do ano de 2014, para os amigos mais íntimos ver e estudar, para escrever críticas sobre todos os filmes indicados ao Oscar em 2015. Fiz críticas de alguns, mas muitos só vim ver agora, e, ainda falta ver outros, mas cumprirei a promessa.

No início de 2015, já assistira ao contemplativo filme polonês, Ida, ganhador do Oscar 2015 de melhor de língua não inglesa, também vira o russo extraordinário sobre relações humanas e corrupção, Leviatã e também o argentino, Relatos Selvagens, que conta com seis episódios bons, sempre regular e, histórias cômicas de humor negro. Tangerinas é um filme estoniano surpreendente e que discute temas políticos e de guerra civil, e hoje vi o último dos cinco indicados à supracitada categoria do Oscar passado, Timbuktu, o representante da Mauritânia ao prêmio, uma reflexão sobre qualquer extremismo, no caso religioso.

Os cinco são ótimos. Mas, comecemos analisando dos que me agradaram menos para o meu predileto. No caso, trata-se de Relatos Selvagens, brilhantemente dirigido por Damián Szifron, com episódicos cômico que surpreendem por serem extremamente regulares: o primeiro serve como gancho para puxar uma primeira história, aquele serve como prólogo, que será explicado no decorrer do filme, a segunda história é violência pura, lembra Tarantino e suas sandices, o terceiro é o mais irregular, o quarto com a estrela latino-americana Ricardo Darín, é um dos melhores, de crítica social, o quinto mantém o filme interessante e o sexto conto é excepcional. Um filme que merece, sim ser visto! O diretor usou bem a trilha sonora e a montagem que colocou uma primeira história forte no início, no meio um conto excelente e, no fim, a chave de ouro, equilibrando bem as várias partes. Cinema da melhor qualidade.





O filme da Estônia, dirigido por Zaza Urushadze, Tangerinas, é um filme humano, sensível e antibelicista, pró Humanidade pacifista e harmônica. Um filme de teor histórico, remete à Guerra Fria, com a queda já decretada e dissolução consequente da União Soviética, em 1990, ocorreu a Guerra da Abecásia, pois o recente proclamado estado independente da Geórgia, brigava com separatistas locais, que recebiam apoio dos russos e chechenos. As personagens de Ivo e Margus são produtores de tangerinas, abundantes na região, que preferiram tocar à vida, de forma humilde, e fiel às suas culturas campesinas de colheita de tangerinas, em meio à guerra, enquanto seus familiares e amigos, com medo, resolveram voltar para a terra natal, a Estônia.

O filme é um filme de guerra sem mostrar a guerra ou batalhas e mortes, como os filmes hollywoodianos fazem, aqui vale mais a simplicidade para denunciar o horror de qualquer violência, ainda mais uma guerra. Filme humanista. E, quem vê-lo perceberá que ocorre uma segunda guerra fria dentro da Guerra Fria, em seu apagar das luzes, nos anos 1990. Por isso, o roteiro é brilhante neste ponto.



Chegamos ao terceiro filme que adoro, mas não é o meu predileto (dos cinco supracitados), mas que ganhou o Oscar 2015 de melhor filme de língua não inglesa, o polonês, Ida, dirigido e roteirizado por Pawel Pawlikowski, a película é belíssima. Sensível ao retratar as cicatrizes que persistem a não cicatrizar do pós-Segunda Grande Guerra.

Investes na relação entre Ida e Wanda, sobrinha e tia, respectivamente, aquela vivia no claustro do convento e não sabia que tinha parentes vivos, e antes de se tornar freira, fazendo os votos, a madre superior, revela a existência da parente e faz ela viajar para conhece-la, para assim decidir se realmente quer aceitar os votos. Ida, então, vê o MUNDO pela primeira vez, e, se depara com o cigarro, o sexo e a bebida alcóolica, que sua Tia Wanda usa e faz questão de mostrar que aqueles tópicos fazem parte da vida mundana. O que choca a sobrinha Ida, não poderia ser diferente. A discussão entre as relações entre as duas é abordada sutilmente, mas às vezes, mais drasticamente.

As duas, enfim, partem num road-movie, para se descobrirem e enterrarem de fez fantasmas do passado. A ida de Ida à realidade mundana é definitiva? Ou tem volta ao claustro? Perguntas que serão respondidas a quem a assistir a esta belíssima película contemplativa e de fotografia preto-e-branco também indicada ao Oscar 2015. O filme, sim, é uma IDA ao Paraíso e ao Inferno da cada um de nós, e, principalmente da protagonista-título, Ida.



O filme da Mauritânia, Timbuktu, dirigido por Abderrahmane Sissako, que consegue realizar uma direção de atores coesa, fazendo o espectador criar empatia por várias personagens e ódio por outras. Mas, o filme é contra o referido Ódio, pois trata do extremismo religioso numa cidade histórica do Mali, Timbuktu, que é tomada por extremistas que impõem toque de recolher, proibição de esportes, de cantar e dançar, de ouvir música, ou seja, proíbe as pessoas de VIVEREM A VIDA, em nome, segundo os extremistas, de Deus -, (Alá, ou qualquer um que seja, pois qualquer deus, de qualquer religião, não quer TERROR, VIOLÊNCIA, pelo contrário quer: PAZ, HARMONIA e pregaram o AMOR ENTRE TOD@S AS PESSOAS).

O filme chegou aos cinemas brasileiros à época dos atentados em Paris, à sede do jornal de cartuns, Charlie Hebdo, portanto atualíssimo, e já estamos no final de 2015, e continua cada vez mais atual, infelizmente. A fotografia e a trilha sonora do filme são brilhantes. E temos duas cenas de rara poesia no Cinema do século XXI: a cena da partida de futebol?, e, a cena da sala em que se canta e toca uma canção que emociona.



Chegamos ao filme predileto do resenhista que vos escreve, Leviatã, representante da Rússia, dirigido por Andrei Zviaquintsev, a película é uma obra-prima, pois trata das relações humanas de maneira universal, ao partir do particular caso da Rússia, pós dissolução da URSS e do enredo de um prefeito corrupto (lembra nosso país, podes crer!), que quer desapropriar, à qualquer maneira, diga-se de passagem, de forma suja, as terras de um pai de família, no litoral russo, região do Mar de Barents, e chega à universalidade pois trata de relações humanas complexas que são atemporais: política, corrupção, amizade, adultério, religião e muito mais.

E de fato, como Hobbes disse, “o lobo é o lobo do homem”, Leviatã é uma película marcadamente decadente, que reflete a Humanidade decadente do século XXI, moralmente a sociedade refletida no filme é uma decadência ética e moral, e, os Homens são monstros (leviatã se refere também às baleias) amorais e decantes. O filme, enfim, é uma ruína alegórica da Humanidade atual, não só russa.

A fotografia também merece destaque e a banda sonora só reforça a amoralidade do homem pós-moderno. A montagem é especial também, pois as duas horas e 20 minutos de filme não cansam o espectador, ao contrário o instiga a reflexões, pós sessão no cinema, e, pela vida toda, portanto, o filme é uma OBRA-PRIMA!.




Quem leu estas críticas, percebeu, que para o crítico que as escreve, os cinco filmes são ótimos, premiar e escolher é questão individual e relativa, mas o que importa é a qualidade da película e o fato, de neste caso, em 2015, os cinco concorrentes ao prêmio de melhor filme de língua não inglesa, da Academia de Cinema dos Estados Unidos da América, serem convincentes e verdadeiras obras de arte, que têm o que dizer e fazer a reflexão dos espectadores sobre uma Humanidade mais HARMÔNICA!”

domingo, 13 de dezembro de 2015

PASSOS NA NOITE (OTTO PREMINGER/EUA/1950): (“NENHUM NOIR É DICOTÔMICO: BOM OU MAU?! – O MEIO-TERMO É A ESSÊNCIA HUMANA”)

PASSOS NA NOITE (OTTO PREMINGER/EUA/1950)


(“NENHUM NOIR É DICOTÔMICO: BOM OU MAU?! – O MEIO-TERMO É A ESSÊNCIA HUMANA”):





(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)


“Os filmes “enquadrados” no gênero “noir”, clássico, são brutais para os espectadores, pois estes se afeiçoam a vilões, mocinhos, femme fatales, anti-heróis, não tem como é da natureza humana: a empatia. Mas, neste filme, em específico a personagem vivida por Dana Andrews é um policial linha dura, erra algumas vezes, pega pesado, mas é vilão?

Sua personagem também faz boas ações, mas tem que corrigir um erro, um vacilo, um deslize, que é um crime cometido por ele, mesmo que sem querer. E agora? O roteiro é genial é lidar com essas questões. Preminger em nenhum momento fecha questão sobre a personagem, isto fica à cargo do espectador e dos críticos.


A cidade de New York é retratada com seus silêncios e “sons” murmurantes e os passos sorrateiros da noite; a ambiência de crime e corrupção permeia o filme todo. A dualidade aqui não é sintética entre o bem e o mal, ou um, ou outro, mas parabática, os opostos se complementam. E a redenção, mero detalhe, talvez...”.

O REI E O CIDADÃO (JOSEPH LOSEY/EUA/1964): (“O CIDADÃO (DES)UMANIZADO”)

O REI E O CIDADÃO (JOSEPH LOSEY/EUA/1964)


(“O CIDADÃO (DES)UMANIZADO”):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)





O cineasta Joseph Losey analisa com fina ironia, permeada pela crueldade e pela angústia, típicas de um front de batalha, o filme se passa na Primeira Guerra Mundial, onde a ambiência era marcada por total desespero e pavor, na chamada “guerra de trincheiras”. Um soldado vivo estava em determinado local, ao lado amontoados vários cadáveres de companheiros (e inimigo), e àquele tem que agir com indiferença, pois a guerra faz isso.

Os generais e políticos ficam numa posição confortável após criarem e inventarem estapafúrdias guerras, não pegam em armas, mas matam de qualquer forma vários jovens em guerras sem propósito. Losey acaba, por realizar, uma obra-prima pacifista e anti-bélica.
Os chefões da guerra ficam atrás de suas mesas transformando vidas humanas desperdiçadas em meros números de estáticas de baixas, como se aquele jovem fosse um mero número que precisa ser reposto por um outro soldado/número, para poder assim, sua nação, qualquer que seja, com seus aliados, ganhem a guerra.


O cidadão aqui, um suposto desertor, é des-(umanizado) até as últimas consequências. A relação entre ele e seu defensor (Dick Bogarde) é intensa, mesmo sendo breve e constantemente interrompida pelos julgamentos e pelas ordens superiores de afastamento e distância entre os dois. O defensor mesmo de mãos atadas quanto à fortuna do rapaz, o capta em sua essência (ainda) humana, mas que começa a escapar até o final, que tem um tom esperançoso, mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser trágico.”.


                                                          

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

“O CÚMPLICE DAS SOMBRAS” (FRITZ LANG/EUA/1951): (“UM NOIR ENVOLVENTE, YOYEURÍSTICO E AMBICIOSO”)

“O CÚMPLICE DAS SOMBRAS” (FRITZ LANG/EUA/1951)


(“UM NOIR ENVOLVENTE, YOYEURÍSTICO E AMBICIOSO”):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)





Um policial inescrupuloso e ambicioso e não satisfeito com sua profissão/cargo dentro da polícia, pois achava que ganhava pouco e isso fazia-o menor em relação aos outros homens da sociedade estadunidense mais abastados financeiramente. Ele ganancioso e obsessivo quer ser um vencedor em termos de status social, via enriquecimento.

Daí surge o plano de um golpe de um crime perfeito envolvendo a esposa de um homem rico, que é morto e deixa no testamento tudo para a viúva, habilmente e ardilosamente seduzida pelo policial das sombras, portanto o detetive consegue o dinheiro e foge com sua nova amante.

Mas o que parecia um crime perfeito, começa a degringolar nas cenas finais que são belissimamente filmadas e as mesmas são simbólicas de ascensão e queda do policial/novo rico, sugerindo, implicitamente, que mesmo escondido, sua condição de rico, não duraria, pois se originou de um delito, passando a ser perseguido e torturado e, se ver açoitado, acabrunhado, humilhado e, enfim, em completa decadência e derrocada.


Começou o filme do zero foi ao auge, rapidamente e ilegalmente, e caiu, da mesma maneira repentinamente, numa ruína física, financeira e moral.”

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

"O Banquete" - Platão - ("EMANCIPAÇÃO DE PLATÃO EM RELAÇÃO AO SEU MESTRE")

                                                             "O Banquete" - Platão:

                                ("EMANCIPAÇÃO DE PLATÃO EM RELAÇÃO AO SEU MESTRE"):

                                                            (RAFAEL VESPASIANO) 



"Livro fundamental para entender como Platão se emancipa do mestre dele, Sócrates, Este sempre terminava com perguntas, sempre deixando o tema em aberto, os seus discursos e diálogos. N´O Banquete, Platão responde e dá uma resposta (pela boca de Sócrates), do que é o "amor (Eros)", de uma maneira, em que Platão tenta valorizar a poesia e às artes em geral, que ele chamara de mera imitação e, retirara os poetas e dramaturgos d´ "A República" ideal, 

   Mas mesmo em O Banquete, a poesia, a dramaturgia e as artes em geral, mesmo correlacionadas com o Belo e com o Amor Pleno (metafísico), ainda ficam em segundo plano perto da Filosofia, das ciências, da educação, da economia, das leis e da Política (Paideia filosófica). 

   A Paideia Poética só seria realmente discutida a partir dos românticos alemães do século XVIII/XIX e, dos filósofos e críticos literários modernos/hermeneutas da virada dos séculos citados, em diante.


   A teoria do andrógino de Platão, aparece na voz do discurso de elogio a Eros, feito por Aristófanes, comediógrafo 
d´As nuvens. O andrógino seria um ser dos primórdios que teria os dois sexos, o masculino e o feminino, porém, Zeus, o divide e gera o homem e a mulher. Como são incompletos precisam se unir para retomar a totalidade e a plenitude perdidas, daí vêm as relações sexuais, o desejo de procriar, e , da imortalidade e do legado."

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

(BANDOLEIROS, ROMANCE, JOÃO GILBERTO NOLL, 1985): (“UM INTELECTUAL PERDIDO E À DERIVA NO MUNDO”)

(BANDOLEIROS, ROMANCE, JOÃO GILBERTO NOLL, 1985)


(“UM INTELECTUAL PERDIDO E À DERIVA NO MUNDO”)


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)

                                                                         

                                                                                 


“O tema deste reflexivo romance de Noll, escritor brasileiro, contemporâneo, aborda a vida, no seu dia-a-dia monótono e vazio, as memórias de um passado vexatório e as agruras de um escritor, narrador-personagem anônimo, frustrado em seu papel de intelectual. Sua última obra fora considerada relevante pela crítica literária, mas a personagem se frustra, pois o livro não vende nada: como fica a relação “autor-obra-público”?, incomunicabilidade, por isso o protagonista em toda sua passionalidade evada-se no sexo, drogas e álcool.

Vive amargurado, solitário e devaneando e relembrando fatos nada importantes para si ou para o status quo da sociedade, ele está perdido, à deriva no mundo, sozinho e desesperado como muitos outros intelectuais/artistas do século XX/XXI, pós-modernos.

Pode-se recorrer ao mesmo tema no romance “Angústia”, de 1936, de Graciliano Ramos, no qual o protagonista Luís da Silva rememora toda sua vida para testemunhar sua dor e seu fracasso como escritor; ou, “O Amanuense Belmiro”, de Cyro dos Anjos, Belmiro simples funcionário público, mas que é um escritor de mão cheia, mas que não publica, frustrando-se também mais um intelectual. Ambos do modernismo brasileiro da primeira metade do século XX. Ou pegar o exemplo do artista plástico frustrado de “O Túnel”, de Ernesto Sabato, romance publicado em 1948. Ou lembrar ainda de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, um moderno à frente do século XIX em seu final.

Bandoleiros é um romance que se sustenta esteticamente e tematicamente. Uma reflexão sempre oportuna a ser feita nos dias líquidos de hoje, segundo Bauman.”

(O GRANDE DESFILE/KING VIDOR/EUA/1925): (“A GUERRA DE TRINCHEIRAS E A DESUMANIDADE”)

(O GRANDE DESFILE/KING VIDOR/EUA/1925)


(“A GUERRA DE TRINCHEIRAS E A DESUMANIDADE”):



(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)




“Um grande clássico antibelicista dos anos 20, dirigido magistralmente por Vidor, O Grande Desfile é um libelo fílmico contra qualquer tipo de guerra ou batalha, no caso se trata de mostrar o horror da Primeira Grande Guerra, a guerra de trincheiras, que o filme mostra muito bem, com um realismo artístico exemplar. As batalhas e bombardeios nas trincheiras são desumanos e são o grande atrativo de ação do filme ao final, com desfecho trágico, como qualquer guerra “real” tem.

Pena, que se perde muito tempo na apresentação das personagens, que por um lado é muito bom para humanizar e criar a empatia entre espectador e as personagens, em especial, com o protagonista vivido por John Gilbert, que se alista na guerra, quando os Estados Unidos da América entram na Guerra, em 1917.

A parte melodramática dele com uma jovem francesa no acampamento militar na França é por demais longa e enfadonha, poderia o diretor quem sabe não ter destinado tanto tempo a essa subtrama.

Mas a apoteose do filme é a batalha final, a guerra de trincheiras: trágica, desumana, terrível, degradante, que provoca mortes e mortes aos montes de jovens perdidos no meio do “nada”. O ser humano torna-se número de cadáveres, mero registros. O horror da guerra torna-se espetáculo/desfile e essa é a verdade até hoje ainda no século XXI, 2015.


Clássico é isso!”


O QUIMONO ESCARLATE (SAMUEL FULLER/EUA/1959)


(“PRECONCEITO E CIÚME EM UMA OBRA-PRIMA DE FULLER”)


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)






“Este filme de Fuller poderia ser encarado como um mero e passageiro filme policial. Mas não o é, o cinema de Fuller é primeiramente paixão e ação. A proposta do filme é apelar aos sentidos dos espectadores, numa fotografia preto-e-branco arrebatadora, é quase apelativa para que o filme nos fale diretamente, sobre vários temas entre eles, o ciúme doentio de uma mulher por possível assassino de uma dançarina, ciúme este baseado no fato da artista ser mais nova do que a pretendente (possível) ao pacato cidadão, boa praça e bem-disposto a ajudar o próximo. Ciúme entre parceiros detetives por uma mesma mulher, Cris, sedutora, que endoidece a cabeça, tanto de Joey quanto de Chalie. Enquanto essas reflexões sobre ciúme ocorrem a trama policialesca de qualidade continua sendo desvendada aos poucos.

Outra questão abordada é o preconceito norte-americano contra asiáticos, em especial japoneses, chineses e coreanos, nos anos 50/60 do século XX; o filme é também uma crítica à Guerra da Coréia, e por tabela à Guerra do Vietnã, e, mais amplamente à Guerra Fria, um libelo antibelicista implícito. Os dois detetives desenvolvem uma rivalidade baseada na discriminação étnica (Joey, de origem asiática, passa, de acordo como transcorrer do enredo, a achar que o parceiro estadunidense caucasiano o discrimina, Charlie, fica numa situação delicada em relação ao amigo desconfiado. Mas o próprio Joey acha que também é vítima de preconceito racial e étnico de Cris, a mulher americana e branca, com quem se envolve no transcorrer da trama.


O filme é abrupto e passa rápido, no calor dos sentimentos e das emoções, apelando ao espectador atenção total, e, gerando reflexões durante a projeção e depois da exibição também. Um clássico. Atualíssimo ainda no século XXI, 2015.”

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

(LONGA JORNADA NOITE ADENTRO)

(“UMA JORNADA NO ÂMAGO DE UMA FAMÍLIA EM RUÍNAS”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“Eugene O´Neill confessou que a sua peça trágica e reveladora dos mais profundos dramas de consciência, “Longa Jornada Noite Adentro”, é muito autobiográfica, uma espécie de catarse para o autor e os dramas vividos no passado no seio de sua família.

O autor se preocupa na peça com cada personagem, com o mesmo tratamento, sem prevalecer um sobre o outro. Todos da família estão vivendo um período de tensão na vida familiar; por causa da mãe viciada em morfina; o esposo tenta fazer de conta que tudo transcorrer naturalmente e “acredita” nas mentiras da esposa, de que ela está sem usar a droga. Os filhos (dois), um reage de forma mais agressiva contra o pai e a mãe, e, o outro mais novo observa mais distante, mas sofre muito também, e é um garoto adoentado, o que faz mãe dele paparicar muito o mesmo. Este filho mais novo, inocente é o mais impotente na peça e ver e registra (com drama de consciência) tudo que se passa com seus familiares, na casa de veraneio deles.

Este drama trágico, de colocar todas as emoções e pensamentos para fora, verbalizar para o outro, para o outro parente/familiar, tudo o que pensa sobre a situação, leva à família à ruína física, psicológica e moral. E o garoto acaba se envolvendo mais e sofre em dobro, por ele e pela mãe. A mãe está completamente fora-de-si, perdendo a razão e perdendo a sanidade.

A peça tem quatro atos: o primeiro, se passa de manhã; o segundo, ao entardecer; o terceiro, ao crepúsculo, e, o quarto ato, perto da meia-noite. É um crescente simbólico de escuridão, sombra, penumbra, não só no meio físico, porém, também, uma metáfora dos estados das almas das personagens, que cada vez vão saindo da zona de conforto para o desespero e perda da razão, mesmo que momentânea. A luz solar (clareza de pensamento) vai diminuindo até dominar a escuridão plena na casa e na ambiência do espaço, onde se passa a trama, chegando às trevas (perda da razão).

A família termina arruinada não financeiramente, mas psicologicamente, com traumas que serão carregados com cada personagem até o fim... da sua existência!?. O drama de consciência e humano, portanto, é destruidor e devastador, e que faz realmente nós sermos criaturas racionais, mas que podemos perder a razão, por segundos apenas, porém, o suficiente para a união familiar está arruinada para sempre. A ruína aqui não é meramente física, mas moral (alegórica).


“O Inferno Somos Nós.”, (frase, de Jean Prévost), sobre a peça de O´Neill, que serviria de epígrafe para a obra do dramaturgo. Todos da família saíram do “Paraíso”, já começam a peça no “Purgatório”, sofrendo tragicamente e dramaticamente e vão Inferno absoluto psicológico, sem muitas possibilidades catábase.”


quarta-feira, 14 de outubro de 2015


“FUGA DO PASSADO” (JACQUES TOURNEUR/1947)

(“PASSADO VERSUS PRESENTE: REDENÇÃO”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“Fuga do Passado é um filme noir por excelência. Sombras, ambiência claustrofóbica, becos, personagens decaídas, algumas se mantendo no vício, outras querendo a redenção. Fumaça, neblina, névoa, penumbra, excesso de álcool, etc.



Um enredo extraordinário e que prende o espectador fácil e até o desfecho da película. Grande elenco, grandes atuações. Direção magistral de Tourneur. O filme é circular (começa e termina na mesma estrada), e, a relação do passado e presente das personagens, vai-e-vem à toda hora na narração da história. O cineasta transforma o espectador em agente subjetivo da narração e da intriga, simpatizando ou não com alguma personagem.




O roteiro propõe várias reviravoltas e anti-clímaxs até atingir o ápice do desfecho. O filme é noir de alto teor psicológico. Uma realização ímpar de Tourneur.”


domingo, 4 de outubro de 2015

“ANJO DO MAL” (SAMUEL FULLER/EUA/1953): (“A DICOTOMIA DA SOCIEDADE: DIGNIDADE E CORRUPÇÃO” )

“ANJO DO MAL” (SAMUEL FULLER/EUA/1953)

(“A DICOTOMIA DA SOCIEDADE: DIGNIDADE E CORRUPÇÃO” ):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“O filme de Samuel Fuller foi vencedor do Leão de Bronze no Festival de Veneza, merecidamente, pois o filme é ousado, como o diretor sempre o foi, em suas obras, e, neste “Anjo do mal”, o cineasta se preocupa em mostrar a paranoia da Guerra Fria entre EUA e URSS, quando um ladrão rouba uma bolsa de uma mulher, no metrô, sem saber que aquela contém um microfilme com segredos de estado.

Nos filmes noir de Samuel Fuller e é o caso também de Anjo do Mal, o diretor não tem como foco femme fatales e nem anti-heróis trágicos, mas sua câmera foca a camada baixa da sociedade estadunidense: prostitutas, gigolôs, traficantes, delatores, fracassados, bandidos de segunda espécie, policiais propensos à corrupção, etc. Tudo isso mostra que o “sonho americano” e a “maneira de viver americana” são apenas fantasias e utopias. Pois, o mundo é sujo e corrupto por demais.

Skip ao roubar a bolsa vê seu mundo virar do avesso, com sua vida correndo risco. O ladrão de meia tigela se vê agora em meio a uma trama e, sozinho a enfrenta, perdendo todos os amigos em quem podia confiar, pouco a pouco. De ladrão insignificante torna-se inimigo público número um.


O diretor Samuel Fuller através do argumento, da fotografia e da montagem do seu filme; na dramaturgia e no diálogo revela esse paradoxo e a dicotomia desse mundo: a utopia da dignidade humana e a corrupção total da sociedade. O cineasta deixa esta dicotomia em aberto ao final do filme, para o espectador tentar resolver!?”

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

“A GRANDE ILUSÃO” (JEAN RENOIR/FRA/1937): (“O REALISMO POÉTICO DE RENOIR, EM PLENO HORROR DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA”)

“A GRANDE ILUSÃO” (JEAN RENOIR/FRA/1937)

(“O REALISMO POÉTICO DE RENOIR, EM PLENO HORROR DA PRIMEIRA GRANDE GUERRRA”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“A grade ilusão, de Jean Renoir, é considerado um dos grandes filmes franceses de todos os tempos e da cinematografia mundial como um todo. Trata da Primeira Guerra Mundial, em 1937, quando aquela ainda não era tratada como tal, e, a sombra de Hitler se fazia surgir, para eclodir numa guerra de proporções maiores, a Segunda Guerra Mundial, 1939-1945. Mas Adolf Hitler, não aparece no filme de Renoir, a película narra a trama de soldados franceses presos em um campo de prisioneiros alemão, em 1916, e, faz reflexões sobre a guerra e o comportamento humano no meio dela.

Inspirou filmes posteriores como Inferno Nº 17, de Billy Wilder, Fugindo do Inferno, com Steve McQueen, e, mais recentemente, A Guerra de Hart, com o canastrão Bruce Willis. Uma das cenas clássicas de A Grande Ilusão é aquela onde os soldados franceses cantam A Marselhesa, em pleno território alemão, ou seja, a cena de Casablanca vem um pouco depois.

Há um aprofundamento psicológico de todas as personagens, tanto as francesas, quanto as alemãs. Os diálogos entre eles são antológicos e primorosos, o que propõe a mensagem antibelicista do filme, de Jean Renoir. Essas cenas que se dão principalmente entre o Capitão alemão vivido pelo ator Erich von Stroheim e os prisioneiros franceses têm a finalidade de propor uma mensagem de paz, harmonia e antimilitarista.

Outros temas abordados são: a amizade, mesmo entre inimigos, pois o capitão alemão não concorda com a Guerra, está apenas cumprindo o seu dever, mas mantém uma relação respeitosa com seus prisioneiros franceses; a disputa de classes é outro tema debatido; amizade; saudade, etc.


Um filme sobre o ser humano e como ele pode se sobrepor sobre as guerras e evita-las.”

A MORTE NUM BEIJO (ROBERT ALDRICH/EUA/1955): (“UM EXEMPLAR CLÁSSICO E SEMINAL DO CINEMA NOIR”)

A MORTE NUM BEIJO (ROBERT ALDRICH/EUA/1955)

(“UM EXEMPLAR CLÁSSICO E SEMINAL DO CINEMA NOIR”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“Robert Aldrich realiza um film noir exemplar e angustiante. Diretor de outros filmes seminais, como “O que terá acontecido à Baby Jane?”, e, o provocador “Os doze condenados”. Em A morte num beijo, o cineasta realiza uma obra seminal dentro do gênero “noir” e vai além, pois à época da realização da película, o mundo vivia o auge da Guerra Fria entre EUA e URSS, e o filme se alimenta deste medo angustiante e pavor de a qualquer momento estourar a Terceira Guerra Mundial, a Guerra Nuclear, e o final da trama mostra isso muito bem.

As sombras proporcionadas por uma fotografia e ambiência apavorante e angustiante fazem as personagens se moverem e agirem de maneira sombria, desesperada e rumo a um destino trágico, como faria supor se estourasse a Terceira Grande Guerra. O filme parte do microcosmos de uma investigação policial particular a um macrocosmo de Guerra Mundial e atômica.

Na trama, uma mulher (femme fatale, típica dos filmes noir) aparece fugido de uma misteriosa perseguição envolvendo um crime. Esta personagem morre e o detetive Mike que a encontrara desesperada na fuga, resolve investigar as causas daquela morte e do passado da mulher assassinada.

A fotografia é maravilhosa, sombria, pessimista, fatal e até com referências à fotografia expressionista do início do século XX, ressaltando o ambiente tenso e sombrio do filme e, a trilha sonora é angustiante, realmente, reforçando o caráter de filme noir da película de Aldrich, sua tensão é fatalista, cruel e mórbida.


 O cinema noir de origem francesa foi importado pelos estadunidenses, pois estes viviam um período de desilusão pós-Primeira Guerra Mundial e Grande Depressão (queda da bolsa de valores de 1929/1930). Além da corrupção e as consequências e frustrações dos conflitos bélicos da Primeira Grande Guerra; tudo isso favoreceu o film noir se estabelecer como um gênero fílmico nos EUA, apesar de importado, mas que se naturalizou bem nas condições socioeconômicas e psicológicas da sociedade estadunidense. Enfim, uma sociedade marcada pelo incerto presente e futuro. E A morte num beijo reflete tudo isso e a geopolítica global da época.”

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

ADEUS ÀS ARMAS (FRANK BORZAGE/EUA/1932): (“FILME PACIFISTA, PORÉM SEM PROFUNDIDADE”)

ADEUS ÀS ARMAS (FRANK BORZAGE/EUA/1932)

(“FILME PACIFISTA, PORÉM SEM PROFUNDIDADE”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“Adeus às armas, do prestigiado diretor Frank Borzage, recebeu quatro indicações ao Oscar, à época, inclusive a Melhor Filmes, mas ganhou Melhor Fotografia e Melhor Som. Porém, a intenção do filme, que seria retratar o horror da Primeira Guerra Mundial, não se concretiza, pois, a guerra, ou a crítica, ironia, não estão presentes no filme, só em breves momentos, que acabam caindo ou em cenas cômicas, ou no enredo do romance entre as personagens Gary Cooper e Helen Hayes (as personagens não são aprofundadas psicologicamente, diga-se de passagem).

O romance, inclusive, toma quase todo o tempo do filme e é mal aproveitado como argumento e história. O filme envelheceu e apesar de ser um “clássico hollywoodiano”, não se firmou com o passar dos anos, como um verdadeiro filme Clássico, ou seja, universal e que a crítica à guerra(s) torna-se um discurso anti-bélico atemporal, isso não se realiza.

                                                                           



Talvez só no final, quando a personagem de Cooper, gemendo e sussurrando diz: “paz”, repetindo o vocábulo três vezes. O enredo do filme é baseado em livro de Ernest Hemingway.”

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

"JESSE JAMES" (HENRY KING, EUA, 1939): "Nem tão herói, nem tão bandido":

"JESSE JAMES" (HENRY KING, EUA, 1939):

"Nem tão herói, nem tão bandido":

(Crítica por Rafael Vespasiano)






"Anti-western ou western psicológico. De Henry King, de 1939, "Jesse James". Com Tyrone Power, Henry Fonda, Randolph Scott, John Carradine e Lon Chaney Jr. 

King é um diretor subestimado pela maioria, mas tem diversas obras-primas. Por exemplo, este faroeste que é um exemplar raro de "bang bang" e, reflexão e crítica social, caminhando juntos. 

breve parênteses sobre;

(a trilha sonora que é excelente, no início da película, principalmente. E a fotografia coloria em Technicolor é especial.) 

 O diretor King bastante versátil, já mostrou em "Jesse James", que sabia fazer "westerns", isso só viria a se confirmar e a se aprimorar ainda mais nos faroestes futuros como, os também 'anti-westerns': "O Matador" e "Estigma da Crueldade". 

 Interessante a crítica sociopolítica de "Jesse James": em relação ao avanço inescrupuloso das ferrovias no velho oeste dos Estados Unidos da América, pós-Guerra Civil Americana. Mostra os desmandos e desrespeitos ao povo humilde estadunidense, por parte dos donos/empresários corruptos que queriam construir suas ferrovias "a qualquer custo", com a colaboração de advogados e juízes corruptos, e também cercado e protegido por pistoleiros contratados e até por xerifes vendidos aos interesses do capital das empresas ferroviárias, 


O Verdadeiro Jesse James



O filme é "bem" politizado para a época, já que critica a própria formação da sociedade americana, sendo que o filme foi feito dentro dos EUA e naquela época (e ainda hoje), os cineastas tomam "cuidado" excessivo em não mostrar os podres dos USA. Adendo: nas décadas de 1930 e 1940, os estúdios censuravam muito os seus cineastas e faziam até cortes nessas críticas, então alguns diretores criticavam e refletiam livremente sobre seu país, como Henry King, que conseguiu preservar seu filme. Porém, outros cineastas e suas obras não tiveram a mesma sorte e foram manipuladas e deturpadas, sofrendo cortes e rasuras feitas pelos produtores. 

"O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford", filme do ano de 2007, com Brad Pitt, cujo o diretor é Andrew Dominik, com certeza, viu e reviu o filme de Henry King, e, bebeu deste, suas influências e técnicas, para também realizar um primoroso anti-western, ou western psicológico, (sub)-gênero no qual se vale mais e muito mais importante e decisivo: os conflitos e dramas de consciência do que a ação e os tiroteios sem propósito. 

último parênteses:

("O retorno de Frank James", de 1940, é uma espécie de continuação de "Jesse James", dirigida pelo também sensacional cineasta, Fritz Lang, e o retorno do mesmo intérprete de Frank no filme de 39, Henry Fonda.)".